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Economia Prateada – o Exemplo Italiano

Na Europa como um todo, o segmento maduro da sociedade é enorme, com grande poder de consumo e, principalmente, grande capacidade produtiva. Os governos, aos poucos, deixam de enxergar no envelhecimento populacional um problema previdenciário e começam a perceber que os mais velhos trabalham, produzem e consomem. Ou seja, geram valor para a economia, o que significa aumento no recolhimento de impostos e menor pressão sobre as finanças públicas. No Brasil, contrariamente, ainda existe a visão primitiva da tal “bolha demográfica”. Recentemente, um prestigiado demógrafo usou essa expressão para realçar o “problema” que a previdência irá enfrentar à medida em que aumenta a longevidade.

Semanas atrás publiquei, neste mesmo espaço, alguns dados sobre a economia prateada espanhola. Agora é a vez da Itália. Os dados abaixo foram retirados de um estudo publicado pouco anos atrás pela Confindustria – a Confederação Nacional da Indústria daquele país. Embora apurados antes da pandemia, eles continuam válidos e servem como benchmark para o Brasil.

A Itália caracteriza-se por ter uma população longeva média, com expectativa de vida de 81 anos para homens e 85 para mulheres. É o país mais “antigo” do mundo, depois do Japão

Em 2018, 22,8% da população do país tinha mais de 65 anos. Esse índice caminha para atingir 34% em 2047

Em 2018 havia 173 pessoas idosas para cada 100 jovens na Itália. No ano 2000, essa proporção era de 130 para 100. E em 1980, eram de incríveis 58 idosos para cada 100 jovens. O Brasil está passando precisando pelo mesmo fenômeno. Usando o critério italiano (ou seja, jovens são pessoas com menos de 20 anos e idosos são pessoas com mais de 65 anos), as proporções brasileiras eram de 22 idosos para 100 jovens em 2010. Isso evoluiu para 43 / 100 no ano passado, e chegará em 90 idosos para cada 100 jovens em 2045 e 128 idosos para cada 100 jovens em 2060

Os italianos acima de 65 anos têm um consumo médio anual per capita de 15,7 mil euros, contra 12,5 mil dos menores de 35 anos. um rendimento médio de 20.000 euros, contra 16.000 para os menores de 35 anos; patrimônio per capita de 232 mil euros versus 110 mil para os menores de 35 anos; apenas 1 em cada 10 idosos está endividado, contra 1 em 3 dentre os menores de 40 anos; a incidência de pobreza é metade em comparação com os menores de 35 anos (13% x 30%); e há uma grande resiliência aos ciclo econômicos já que parcela substancial de sua renda vem de aposentadoria, que não cai em épocas de crise.

O poder de consumo dos 65+ na Itália é equivalente a um quinto de todo o consumo das famílias residentes. Esse porcentual se elevará para 25% em 2030 e 30% em 2050. O patrimônio líquido consolidado desse grupo etário é de 3,2 trilhões de euros

O envelhecimento, com a consequente mudança da matriz produtiva e de consumo, está levando a Italia a considerar a criação de um novo ministério, o Ministério da Terceira Idade, à semelhança do que já existe na Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Malta, Escócia, Irlanda, País de Gales. A função desse ministério será a de se preocupar com questões como educação permanente, usabilidade das tecnologias de informação, mobilidade sustentável, alimentos funcionais, monitorização contínua das condições de segurança e formas de cultura baseadas nas capacidades e habilidades físicas e intelectuais dessa população.

Do ponto de vista de negócios, o envelhecimento da população vem remodelando diversos segmentos da atividade, em particular habitação, transportes, alimentação, seguros, tecnologia, saúde (e-health), comunicações, esporte, lazer e viagens . A Silver Economy não representa simplesmente um mercado, mas sim uma “economia transversal”, que abarca toda a sociedade e todas as atividades produtivas

As empresas desenham cada vez mais produtos destinados ao consumidor “prata”, focando particularmente em atributos valorizados por esse público consumidor como qualidade, sustentabilidade, design inclusivo e amigo do idoso.

Na Europa, e na Itália em particular, algumas empresas importantes adotaram o envelhecimento como um driver comercial estratégico. Alguns exemplos são o Bank of America Merrill Lynch, Nestle Skin Health, BlackRock, BMW, Intel, GE, Novartis, Aegon, Discovery e PfizerOutras, como L’Oréal, Nestlé e Danone estão criando novas linhas de produtos e serviços focados no antienvelhecimento ou em produtos de saúde e bem estar.

Por fim, todos os estudos sobre economia prateada, na Italia, apontam para um mesmo desafio: é fundamental que o governo, em seus vários níveis, se comprometa em fortalecer o tema da aprendizagem continua ao longo da vida, elemento crucial para se fazer frente ao prolongamento da idade laboral.

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