Por Gustavo Vilardo, Diretor Executivo da Sky Brasil
A população brasileira está ficando mais madura numa velocidade impressionante. Mas esse mercado de consumo não está devidamente representado dentro das empresas.
As organizações só conseguirão criar produtos e serviços adequados se seus quadros estiverem em maior paridade com o mercado. E isso só ocorrerá com um foco maior em contratação de gente mais madura.
Os rótulos em relação a força de trabalho de mais idade são, na verdade, mitos. Embora existam evidências tímidas de evolução da preocupação com etarismo, o caminho ainda será longo até a diversidade etária acontecer em escala. Convoco a todos a embarcarem nessa jornada.
O mercado de consumo está mais maduro
O Brasil é um país enorme e atingiu uma população de mais de 200 milhões de pessoas, segundo o último Censo do IBGE, de 2022. Embora a população tenha crescido desde a primeira medição, feita em 1872, a partir de 1960 o crescimento tem caído de maneira consistente. Por exemplo, de 2010 a 2022 a população aumentou a metade do que de 2000 a 2010.
Em paralelo a esse crescimento, também vem ocorrendo uma mudança significativa na distribuição da população entre as faixas de idade. Pessoas com 65 anos ou mais já representam cerca de 11% do total de indivíduos no Brasil em 2022, contra 4% em 1980.
Além disso, o índice de envelhecimento, que mede o número de pessoas com 65 anos ou mais em relação a um grupo de 100 pessoas com até 14 anos, subiu mais de 5x em 40 anos. E isso vem aumentando mais a cada década, fazendo a população envelhecer mais rápido à medida que o tempo passa.
A consequência desse fenômeno socio-demográfico é a formação de um enorme mercado de consumo composto por indivíduos mais velhos. Por exemplo, o “mercado maduro” definido como aqueles com 50 anos ou mais, já representa 25% do total da população brasileira, com mais de 55 milhões de pessoas.
Esse mercado maduro tem necessidades emergentes específicas, que precisam ser endereçadas pelas empresas. Por exemplo, a preocupação com qualidade de vida muda o paradigma dos serviços de saúde rumo a prevenção de doenças. Vivendo mais, as pessoas também buscam conhecimento e entretenimento, impactando os setores de educação, mídia e turismo.
As empresas ainda não entenderem o recado: o quadro das empresas não reflete o mercado e o pré-conceito contra idade não faz sentido
Pela lógica do foco no cliente, era de se esperar que o quadro de funcionários das empresas representasse o mercado. Mas não é isso que se observa.
Avaliando as empresas de capital aberto no Brasil, somente 12%, do quadro de funcionários tem 50 anos ou mais. Essa representação muda pouco entre posições de liderança ou não e, se trata da metade do que o mercado maduro representa na população do Brasil.
Não consegui dados analíticos de idade de funcionários de empresas menores, mas eu apostaria que o resultado seria até pior. Vejo um sinal claro de alerta para as organizações.
Tal situação pode ser explicada pelos vieses existentes para contratação de funcionários mais maduros. Mas esses rótulos não passam de mitos, de acordo com o estudo FDC Longevidade – Pessoas de 2020.
Por exemplo, a visão de que pessoas mais velhas não se dão bem com tecnologia não é 100% verdadeira, já que Baby Boomers costumam compartilhar relativamente mais conteúdo em redes sociais. A crença de que empregados mais maduros não são criativos também não procede, os empreendedores têm cerca de 45 anos de idade média no Brasil.
Os sinais evolução ainda são tímidos
O impacto dos rótulos em relação à empregados mais maduros é muito claro no dia a dia da gestão de pessoas das organizações.
Segundo a pesquisa Etarismo e Inclusão da Diversidade Geracional nas Organizações 2023, da Robert Half e Labora, a participação de indivíduos maduros, com 50 anos ou mais, no quadro de funcionários, contratação ou demissão, em empresas grandes e médias, são muito baixos, variando de ~1% a, no máximo,~4%.
Mas nem tudo é só má notícia. Existem algumas evidências de mobilização das organizações quanto a conscientização do preconceito com a idade e da importância da diversidade etária para a performance dos negócios.
Por exemplo, também de acordo com a pesquisa Etarismo e Inclusão da Diversidade Geracional nas Organizações 2023, da Robert Half e Labora, cerca de 16% das empresas já produziu campanha contra etarismo nos últimos 12 meses. Outros 50% consideram que preconceito contra idade precisa ser disseminado internamente e 33% têm terão uma política de comunicação anti-etarismo.
Gustavo Vilardo atua na direção de marketing, vendas e novos negócios no setor de tecnologia e telecomunicações. É conselheiro de administração no setor de bens e consumo eletrônicos. Considera-se um poliglota cultural tendo sido pioneiro no mercado de Internet, consultor de gestão em empresas multinacionais como Accenture e executivo em empresas nacionais e multinacionais. É apaixonado pelo tema de longevidade e acredita na alta performance por meio da disciplina da prática de esportes e do equilíbrio entre o corpo e a mente.