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Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar

Falar sobre diversidade e inclusão virou o novo xodó do mercado e é assunto nas grandes rodas de discussão das empresas em todos os setores. As empresas perceberam a necessidade de falar desse tema e criar programas que possam incluir os chamados “grupos minoritários”.

Começo este artigo usando como título a famosa frase da VP de Inclusão da Netflix, Vernã Myers. É justamente uma provocação para deixarmos de lado o romantismo da diversidade e falarmos sobre o grande desafio que é incluir, de forma real, pessoas que sempre estiveram à margem da sociedade no mercado de trabalho.

Segundo o estudo da Juliana Rodrigues Kaiser (2023) pela FGV, nos grandes programas de diversidade, 30% a 40% dos talentos negros são demitidos em menos de 6 meses. Já a gigante Google divulgou que 2021 foi seu melhor ano em número de contratação de pessoas negras, mas houve também uma crescente de pedidos de demissão desse grupo, e mesmo com o esforço em aumentar o número de pessoas negras na empresa, eles representam apenas 4,4% da força de trabalho. Segundo o IBGE, em 2019, 75% das pessoas mais pobres do país eram negras. Segundo o levantamento, 55,8% da população em 2018 se declarou preta ou parda (a soma das duas resulta nos negros). Entretanto, na camada dos 10% com maior rendimento per capita, os brancos representavam 70,6%, enquanto os negros eram 27,7%. Entre os 10% de menor rendimento, isso se inverte: 75,2% são negros, e 23,7%, brancos.

Promover uma cultura de inclusão é um grande desafio nas empresas, já que a resistência a esse grupo pode partir, não só dos funcionários, como de líderes que não veem a necessidade ou benefícios de tais práticas e na maior parte dos casos não estão preparados para liderar pessoas com características distintas e vivências que não são vistas como aplicáveis no mercado de trabalho. Muitos gestores acreditam que é só criar um programa selecionando pessoas dos grupos minorizados, e essa ação já é a solução para tornar a empresa mais diversa e não estão preparados para receber e criar um ambiente inclusivo. Programas de diversidade e inclusão precisam, necessariamente, trabalhar em conjunto com a cultura organizacional, já que as empresas são reflexo da sociedade, e por estrutura, nossa sociedade é racista e excludente.

É comum as empresas enfrentarem desafios na retenção e no engajamento de funcionários diversos, como já citado na pesquisa da FGV e no caso da Google. E isso se deve, em grande parte, à falta de programas de desenvolvimento de carreira equitativos, à falta de suporte para necessidades específicas de grupos minoritários e em boa parte um ambiente hostil, que não consegue incluir, socialmente, pessoas vistas como não capazes, por suas características físicas ou aspectos psicológico e comportamentais. Em algumas empresas podemos observar políticas que criam barreiras para esse grupo ou que não são sensíveis às necessidades de todos os funcionários. Isso pode minar os esforços para promover um ambiente inclusivo.

Enquanto a diversidade se concentra na composição variada de pessoas nas organizações, a inclusão se preocupa com a criação de um ambiente onde todas as pessoas possam se sentir pertencentes, valorizadas e capazes de contribuir com suas experiências plenamente. Elas devem trabalhar em conjunto e pensar como primeiro passo a cultura empresarial, o envolvimento de toda a empresa e a conscientização de comportamentos conscientes e inconscientes, prejudiciais ao bom andamento de uma política empresarial inclusiva.

A inclusão causa incômodos, mexe com a cultura e traz reflexões sobre nossa sociedade. Se o processo de inclusão dentro da sua organização não causar esse sentimento e não gerar ações, ele não está sendo feito de forma eficaz. Ninguém disse que incluir é fácil, mas, em longo prazo, pode ser um impulsionador poderoso de desempenho empresarial e competitividade no mercado atual.

Esse primeiro artigo é só a ponta do iceberg de muitas nuances e muitas discussões sobre inclusão e mercado de trabalho, como também é só o começo do meu trabalho na busca de tornar o marketing e demais áreas mais acessíveis, seguras e inclusivas para pessoas que se parecem comigo, que são periféricas e historicamente não estão em ambientes corporativos. Aos poucos estamos criando nossos espaços e trazendo as nossas histórias, a resiliência e uma vontade enorme de mudar nosso futuro e o futuro de nossas famílias e das nossas comunidades.

 

Maria Rita Araújo

Vice Presidente de Inclusão Social da Fundação Brasileira de Marketing (FBM)

Co-fundadora e CEO da Confraria dos Pretos

Coordenadora de Comunicação do Instituto DiverCidades

 

 

Artigo publicado originalmente no site da FBM e reproduzido com autorização

 

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