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Turismo de Saúde – Parte II

A primeira parte deste artigo abordou o surgimento do turismo de saúde no mundo e destacou seu explosivo crescimento: 14% ao ano, já há muitos anos. Um mercado que, dependendo da forma como for calculado, pode chegar a U$ 220 bilhões.

Há dois grandes mercados emissores para o turismo de saúde:

  • De um lado, pacientes oriundos de países pobres, que não oferecem tratamento para o problema que a pessoa enfrenta
  • De outro, pacientes oriundos de países ricos que viajam em busca de uma alternativa mais econômica sem abrir mão da qualidade do atendimento

Em ambos os casos, o destino desses pacientes são países de nível intermediário de desenvolvimento mas que lograram criar uma boa indústria de saúde: Costa Rica, India, Tailândia, Malásia e México são os 5 principais destinos de saúde

Até o último levantamento disponivel, o Brasil ocupava o 22º lugar na listagem de destinos mais procurados. Apenas 55.000 pessoas, a esmagadora maioria vinda das nações vizinhas, e alguns de países africanos, nos procuraram. Nesse ponto surge a questão: porque uma posição tão modesta se temos aqui médicos e hospitais considerados equivalentes aos de primeiríssimo mundo?

Talvez pela mesma razão que faz o Brasil receber apenas 5 milhões de turistas internacionais, enquanto a Turquia recebe 30 milhões e a Arábia Saudita, 24 milhões: zero de divulgação e total desinteresse por parte do governo.

O pior é que o Brasil está exportando pacientes. Um artigo recentemente publicado na conceituada revista Panrotas dá conta que uma delegação do governo suíço veio recentemente ao Brasil promover seu país para tentar capturar uma parcela maior dos 2 milhões de brasileiros que vão buscar tratamento no exterior

A Abratus – Associação Brasileira da Indústria do Turismo propõe inverter essa meta. Ao invés de enviar 2 milhões de brasileiros para se tratar no exterior, que a gente receba 2 milhões de turistas de saúde, com cada um gastando em média U$ 6.000,00 apenas com o atendimento médico. Seriam pelo menos U$ 12 bilhões a mais de receita internacional, um valor nada desprezível

O Brasil pode rapidamente fomentar alguns perfis de turismo de saúde:

  • ortopedia e medicina esportiva, um campo onde o futebol nos transformou em referência internacional
  • Spas de beleza. Pode não ser saúde latu sensu mas está enquadrado na categoria de turismo de saúde
  • odontologia. Mais uma área de especialização onde somos craques
  • cirurgia plástica e tratamentos estéticos em geral
  • obstetrícia: o número de grávidas procurando o Brasil para acompanhamento médico e parto vem aumentando continuamente. O SUS atende gratuitamente parturientes, mesmo que estrangeiras. E o bebê nasce brasileiro, um passaporte bastante valorizado se seus pais são cidadãos de algum país que sofre restrições políticas ou econômicas

O turismo de saúde depende muito pouco de recursos de governo. Todos os investimentos são privados. Ao governo cabe apenas duas coisas: divulgar o país no exterior e coletar impostos da atividade econômica adicionada

Mas uma estratégia bem pensada poderia colocar o Brasil na lista dos principais destinos turísticos de saúde em pouco tempo. Seria necessário focar nos seguintes elementos:

  • Infraestrutura de Saúde de Qualidade: o setor privado deve Investir no aumento da infraestrutura médica, ao mesmo tempo em que a moderniza tecnologicamente.
  • Parcerias Internacionais com instituições médicas e agências de saúde internacionais para promover a credibilidade e a confiança. Negociar acordos com seguradoras de saúde internacionais para maior cobertura dos serviços médicos.
  • Certificações e Acreditações: buscar certificações internacionais de qualidade para hospitais e clínicas. Promover acreditações reconhecidas globalmente para profissionais de saúde.
  • Promoção de Destinos de Saúde: criar campanhas de marketing específicas para promover destinos turísticos de saúde no Brasil. Destacar a diversidade cultural e turística do país em combinação com serviços de saúde de qualidade.
  • Facilitação de Vistos e Processos Burocráticos: simplificar os processos de visto para pacientes estrangeiros. A burocracia brasileira é um desastre de proporções bíblicas que poucos governos tem coragem de enfrentar. Oferecer assistência para facilitar a obtenção de autorizações médicas e outros documentos necessários é fundamental para estimular a vinda de pacientes.
  • Treinamento Cultural: treinar profissionais de saúde e equipe de suporte para lidar com pacientes de diferentes culturas. Oferecer informações detalhadas sobre a cultura local aos pacientes estrangeiros. Ensinar línguas estrangeiras aos profissionais que prestam atendimento direto ao paciente internacional
  • Desenvolvimento de Pacotes Turísticos Integrados: as operadoras de turismo devem trabalhar a quatro mãos com entidades do setor médico para desenvolver pacotes turísticos integrados. É bom lembrar que o paciente nunca viaja sozinho e seu acompanhante é apenas um turista que deseja consumir.
  • Promoção Online: investir em marketing digital para alcançar potenciais pacientes internacionais. Utilizar redes sociais, blogs e websites especializados para promover os serviços de saúde.
  • Feedback e Melhoria Contínua: coletar feedback dos pacientes internacionais para melhorar continuamente a qualidade dos serviços. Adaptar as estratégias com base nas necessidades e expectativas dos pacientes.

O poder público brasileiro não costuma planejar a longo prazo. E quando planeja, é comum abandonar o plano ao menor obstáculo ou mudança no interesse político. No entanto, o turismo de saúde depende bem pouco do governo. Se a iniciativa privada souber se organizar, essa atividade econômica poderá se expandir rapidamente, com benefícios para todos: mais emprego, mais geração de tecnologia, expansão da rede hospitalar, maior recolhimento fiscal, maior atividade econômica e mais prestígio ao país.

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